Sean Murphy: Punk Rock Jesus & Café Racer


A capa da edição americana completa de Punk rock Jesus

A capa da edição americana completa de Punk rock Jesus

Punk Rock Jesus estava entre minhas pendências de leitura há quase um ano. A história do primeiro clone de Jesus Cristo criado para a realização de um reality show é um drama humano dos mais envolventes. Sean Murphy, um dos artistas de HQs mais bacanas da atualidade, casa forma e conteúdo com precisão e sensibilidade. Para completar a experiência, tive a oportunidade de encontrar o autor brevemente na Comic Con Experience esta semana. Conheçam um pouco mais de Punk Rock Jesus e de seu criador nas próximas linhas.

O ano é 2019. Num futuro bem próximo, a megacorporação Ophis trabalha na primeira clonagem de Jesus Cristo, a partir do Santo Sudário, para a realização de um reality show, o J2. Em busca da experiência mais próxima possível da história que conhecemos, a empresa faz até processo seletivo em busca de uma jovem virgem que possa dar à luz o novo Cristo, concebido sem pecado, num laboratório. Todos os detalhes do novo empreendimento midiático são apresentados pelo núcleo de personagens principais e complementados pelas transmissões do programa de variedades ‘The Boiler Room’, cujo apresentador, Don Baker, lembra um pouco Larry King na aparência, mas no modus operandi está mais pra José Luiz Datena mesmo.

O autógrafo do artista na minha edição de Punk Rock Jesus

O autógrafo do artista na minha edição de Punk Rock Jesus

O programa é todo filmado dentro da sede da Ophis, que na real não passa de um presídio de segurança máxima. Lá vive esse núcleo principal de personagens, formado pelo novo messias, Chris, sua mãe Gwen, a Dra. Sarah Epstein (responsável pela clonagem) e sua filha Rebekah, o produtor do programa, Sr. Slate, e o chefe de segurança do J2, o irlandês Thomas McKael, este uma figura central em toda a trama, cujo passado inclui envolvimento com o IRA (Irish Republican Army).

Tem muito mais elementos desses personagens, mas não vou ficar dando spoiler aqui. O que posso dizer, além dessa breve apresentação, é que muita coisa acaba não saindo conforme a Ophis desejava. Os flashbacks que contam o passado de Thomas Mckael também são sensacionais. No melhor clima ‘do it yourself’, Sean Murphy trabalhou a arte em preto e branco para o resultado final ficar punk de verdade, mas o refinamento do seu traço e a riqueza de sua arte final estão longe da crueza do gênero. Para quem não conhece ou não lembra do seu trabalho, vale prestar atenção nos ambientes detalhados que o artista cria e sobretudo nas figuras humanas, que tem a pegada cartunesca, mas transbordam uma veracidade impressionante, contribuindo com o tom dramático da narrativa.

Eu e Sean Murphy na Comic Con Experience

Eu e Sean Murphy na Comic Con Experience

Sean Murphy esteve no Brasil entre 04 e 07/12 para participação na Comic Com Experience. Apesar de não ter conseguido assistir sua Masterclass, consegui um breve contato com o artista e autógrafos em alguns trabalhos, entre eles o próprio Punk Rock Jesus e a história Espantalho: Ano Um, publicada por aqui na revista ‘Batman Extra 14’, em maio de 2008.

Entre os materiais que Murphy trouxe para a CCXP estavam originais e impressões de ilustrações incríveis e o novo encadernado Café Racer, que adquiri. O trabalho foi realizando dentro de um projeto do artista com sua esposa, Katana Collins, chamado ‘The Sean Murphy Apprenticeship’. O casal reuniu seis novos e promissores artistas de HQs em sua casa em Portland, nos primeiros meses de 2014, segundo eles com o objetivo de “transmitir ensinamentos em um ambiente de produção intensa, a fim de aprimorar não só suas habilidades artísticas, mas também seu conhecimento no negócio das HQs, em networking e nas teorias de marketing necessárias para que eles sejam bem sucedidos no mercado”.

Café Racer, fruto do projeto 'The Sean Murphy Apprenticeship'

Café Racer, fruto do projeto 'The Sean Murphy Apprenticeship'

Em Café Racer (que virou realidade graças a um financiamento no Kickstarter) Jorge Coelho, Tana Ford, Stephen Green, Corin Howell, Joe Dellagatta e Clay Mccormack, junto com Sean Murphy, contam a história de Orchid, uma jovem filha de pai japonês e mãe inglesa, apaixonada por motocicletas que está prestes a ter revelações bombásticas sobre seu passado. Cada um dos seis artistas foi responsável por um capítulo de Café Racer, e Murphy escreveu e ilustrou o desfecho. A edição contém ainda sketches e artes conceituais, fotos da produção e uma ‘pin-up gallery’ que contou com vários nomes importantes das HQs da atualidade (Fiona Staples e Dustin Nguyen, entre eles), e foi realizada para dar suporte à campanha do Kickstarter, cuja meta era de U$ 15.000, mas arrecadou U$ 50.164!

Punk Rock Jesus foi publicada no Brasil nas edições de 40 a 45 da revista Vertigo, da Panini. Por enquanto não há ainda encadernado com a história completa em português. Já o Café Racer continua só no original em inglês mesmo.

Foi um prazer estar diante de um criador tão sensacional. Agora minha nova pendência é The Wake, história de ficção científica que Murphy realizou em parceria com Scott Snyder, e lhes rendeu o prêmio Eisner este ano. A próxima empreitada do artista, em parceria com Mark Millar, é Chrononauts, uma história de viagens no tempo “reais” que são transmitidas pela televisão para milhões de espectadores. Estou curioso.

Igor Oliveira
Pai orgulhoso, nerd fervoroso, cosmopolita convicto. Com três anos de idade passava o dia trocando aquelas fantasias antigas de super-heróis. Hoje, aos 36, é pai do Pedro, namorado da Marina, e coordena o projeto Geek.Etc.Br na Livraria Cultura.
  • Cassiano Pinheiro

    Adoro esse material!!!

  • http://www.twitter.com/supercaruso Fernando Caruso

    Entrou pra minha lista! Bela coluna! Abs

    • Igor Oliveira

      Obrigado, Caruso.
      É muita coisa boa pra ler mesmo. Minhas pilhas estão imensas. Abraço.

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