Acabei de finalizar o game The Order – 1886, e gostei. A reação de crítica e público para o primeiro título exclusivo de destaque para o PS4 em 2015 foi bastante negativa, por motivos variados: campanha muito curta, nenhuma inovação na mecânica e ausência de modo multiplayer foram os principais aspectos apontados, e a incontestável qualidade gráfica do jogo ficou como se não fosse mais que uma obrigação. A chegada da 8ª geração de consoles de videogames, que compreende o WiiU, o Playstation 4 e o Xbox One, veio cercada de expectativas não atendidas, e uma sensação de que ainda não foi lançado aquele jogo bombástico que faz valer a pena trocar o console antigo pelo novo. Mas será que a indústria de games está vendendo mais do que consegue entregar, ou nós jogadores é que estamos com a expectativa alta demais?

The Order 1886: exclusivo para PS4
As duas respostas são positivas e se complementam. Vamos começar com uma palavrinha em inglês que cabe bem na situação: hype. Pegue aí aquele dicionário enorme, que estava servindo de peso de porta, e você vai encontrar duas definições para o termo, a de “publicidade, propaganda ou promoção espalhafatosa” ou “engodo, mentira”. O fato é que os donos de consoles gastaram tanta grana com o desenvolvimento dos novos hardwares que os jogos que vem sendo lançados tem que render muito para compensar o investimento, mesmo que sejam jogos meia boca. Portanto, muito jogo mediano é vendido como a salvação da indústria dos videogames.
Isso posto, convido vocês a pensarem um pouco em como foi a troca de geração anterior, da 6ª (Dreamcast/PS2/GameCube/Xbox) para a 7ª (X360/PS3/Wii). O PlayStation 3, por exemplo, foi lançado em novembro de 2006, e aposto que você não lembra de nenhum lançamento bombástico, espetacular, inesquecível para o (então novo) console naquele mesmo ano. O X360, lançado um ano antes, teve o primeiro Gears of War como um dos seus destaques de 2006, mas não é que tivemos uma enxurrada de jogos bons. Esse é um movimento normal de troca de geração, já que utiliza-se, por questões técnicas, muito pouco do potencial dos novos hardwares. O que torna a troca de geração atual tão peculiar é o fato da indústria ter abafado tão rápido a geração anterior. Como a nova ainda não entrega a contento, fica uma sensação de vazio muito maior, e a frustração é grande por parte dos jogadores. Um bom exemplo de que esse movimento não acontecia antes: God of War II, não só um dos melhores jogos da 6ª geração, mas um dos melhores de todos os tempos, foi lançado para o PS2 em marco de 2007, quatro meses depois que o PS3 já estava no mercado.

Destiny, dos criadores de Halo
Na parte que nos cabe, mais do que nos assumirmos como vítimas do tal hype, temos que admitir que criamos ideias nas nossas cabeças que nunca foram prometidas pelas publishers de games. O ambicioso Destiny, colossal investimento da Activision que promete se equiparar a Call of Duty em termos de cifras (no médio/longo prazo ao menos), cabe bem para ilustrar isso. Muita gente criou uma ideia equivocadíssima de que vinha um novo Mass Effect, simplesmente porque ambos têm em comum o contexto de ficção científica, futuro, espaço. Fiquei me perguntando (pesquisei e não achei) quando e onde a Activision prometeu entregar o novo Mass Effect.
Nossa relação passional e detalhista com as obras culturais que tanto amamos certamente nos faz criar uma expectativa além da conta. Projetamos aquilo que gostaríamos que fosse. O fato é que estamos criando esse tipo de relação não com um ou outro game, mas com praticamente todos, porque o hype tá uma coisa de doido e também porque o investimento num jogo de videogame é alto e esperamos retorno equivalente. Mais do que o blá blá blá de baixarmos a expectativa, acho que vale curtir com menos ansiedade o jogo mais ou menos e partir pra próxima, até porque, para termos os jogos inesquecíveis, os esquecíveis precisam ter que existir.
Plante Abacaxis