É engraçado escrever sobre um filme assim que saímos do cinema. Eu sempre tenho medo de ser tomada pela empolgação, mas acabei de assistir Jogos Vorazes 3: A Esperança - Parte 1, e não poderia deixar de contar a minha impressão sobre o penúltimo filme da saga. E como é de costume, minha primeira crítica à película é a caracterização de J.Law. Lógico que nos créditos finais, a enorme lista de marcas premium de produtos de beleza, explica como nossa heroína Katniss passa o tempo todo com a pele perfeita e os cabelos intactos.
Natalie Dormer em Jogos Vorazes, provando mais uma vez que gosta de personagens fortes.
Agora que já fiz minha reclamação "mulherzinha", vamos ao que interessa: li os livros quando o primeiro filme saiu e lembro-me que o terceiro foi ao mesmo tempo o que eu achei mais chato e o que eu mais gostei da estória - não é a primeira vez que isso acontece comigo. Ao contrário do que a maioria das pessoas espera, Jogos Vorazes não é apenas uma história sobre adolescentes se matando em uma arena. Na verdade a estória é uma distopia e uma crítica bem interessante à forma como as guerras são feitas e criadas. Para quem não sabe, o pai da autora, Suzanne Collins, lutou no Vietnã, o que de acordo com ela, influenciou boa parte do mundo militar do livro. Além disso, Collins nasceu em 1962 e vivenciou um mundo bipartido, dividido em comunista e capitalista. Esses são alguns dos fatos que tornam Jogos Vorazes tão interessante para mim: Suzanne cria um mundo onde jovens conseguem ter seu primeiro contato com política e o poder envolvido na mesma. E é isso que A Esperança - parte 1, mostra.
Com 123 minutos, e traduzido erroneamente em português para A Esperança - culpa da Editora - a película poderia ser extremamente chata e cansativa, afinal são poucas as cenas de ação. É o meio de uma saga que foi estendida, mas as cenas belíssimas e emocionantes, e com uma estória coesa e interessante sobre como funciona o marketing por trás da guerra, o tempo não atrapalha. Lógico que as brilhantes atuações de Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Donald Sutherland, Woody Harrelson, entre outros, dão o tom certo para explicar que mais do que soldados, são as grandes personagens que comovem, motivam e são capazes de levar multidões para o fronte. Francis Lawrence, o diretor, consegue não só retirar o melhor de cada ator, como cria imagens fortes e comoventes. E mais uma vez, a música entoada por Katniss vira hino, desses que "grudam" na nossa cabeça.
Philip Seymour Hoffman como Plutarch Heavensbee, criador dos discursos políticos no mundo de Panem.
Tenho que confessar que, ao contrário do segundo filme, não senti falta de nenhuma parte do livro. Talvez algum fã mais atento não tenha a mesma imersão que tive ou simplesmente não goste de algumas das mudanças realizadas na estória. Também fiquei procurando cenas com Hoffman que estivessem estranhas - para quem não sabe, o ator morreu durante a última semana de gravação das duas partes de Jogos Vorazes: A Esperança - mas como suas cenas estavam quase todas gravadas, o trabalho de reedição ou efeito especial que usaram, ficou realmente muito sutil. Talvez uma cena ou outra, mas também pode ser exagero da minha parte. Aliás acredito que seja o caso e o jeito é esperar ano que vem para saber se irão manter a qualidade do tributo ao trabalho do ator. Philip, que faleceu esse ano devido ao uso de drogas, foi uma grande perda para o cinema, afinal não é qualquer ator que consegue ser Truman Capote, uma versão de Hubbard o criador da cientologia e ao mesmo tempo ser brilhante como um Propagandista e Redator de Discursos Políticos em um filme que deveria ser voltado especialmente para o público adolescente. Mas a sua sutileza deixa claro que sempre existe mais por trás daquilo que nos é vendido, assim como Jogos Vorazes é mais do que uma simples historinha para jovens, se pararmos para analisar de mais perto.
Não deixe de ouvir o podcast do Abacaxi Voador sobre os filmes anteriores da saga assim como outros filmes de jogos de sobrevivência aqui.

Panem com seu luxo, beleza e pseudo Stormtroopers

Pôster nacional do filme.
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